quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Semana 2 - Quarta - Esperança

Levanto - me por volta das 8 horas. Ontem bebi um pouco mais do que a conta no jantar de aniversário do Jorge e por isso estou um pouco afectado. Devia ser próximo da 1 e meia da manhã quando cheguei a casa.

Quase como um autómato , depois de um frugal pequeno - almoço , começo a varrer , lenta e pensativamente, o jardim da casa , como se à vassourada expiasse os meus tormentos e preocupações. A saída da Carlota vai provocar uma grande falta , ao jardim , à piscina , à envolvente e não sei ainda ao que mais. Não sei o que vai acontecer. 

Penso : sobre ruínas , ruínas virão . É um pensamento um tanto ensombrado e cinzento mas é o que sinto no momento.

O Leonel , o electricista biscateiro , veio finalmente por a bomba do poço a funcionar , logo agora que quem tratava da rega se pisgou , assim de uma hora para a outra. Vejo uma certa ironia nisto tudo.

Venho para Águeda cumprir a a obrigação a que estou sujeito pelo fundo de  desemprego. Marco a minha presença, na junta de freguesia local. São sempre instantes constrangedores mas para já não tenho qualquer alternativa. Aproveito e mudo o óleo do carro. Já não sou mais o super cuidadoso e escrupuloso proprietário que outrora fui no que aos cuidados com o carro concerne.O que pretendo é que ele me transporte e não me traga aborrecimentos de maior. Tenho que o trocar mais dia menos dia disso não tenho dúvida, até porque , um carro a gasolina como o meu , começa a ser incomportável , financeiramente falando. Mantive , a esse propósito , uma pequena conversa com o dono do stand / oficina , equacionando as possibilidades actuais do mercado em segunda mão.

Vim ao apartamento que , em principio , ocuparei até ao final de Outubro. Arrumo e arquivo papéis ao mesmo tempo que tento por as ideias em ordem.

O desaguisado com a Carlota não me deixa em paz. Penso na forma abrupta e repentina como ocorreu a minha mudança para a Pocariça e na minha total insensibilidade ao estado de coisas que , na minha ausência desta casa , se foi estabelecendo ao longo dos últimos anos.

Como já terei escrito , actuei como um elefante em loja de porcelanas. Não tive nem a paciência nem a sabedoria que eram necessárias e , mais grave ainda , que eu sabia serem preciosas para que esta mudança resultasse com o mínimo de custos para todos os nela directa e indirectamente envolvidos. Decido enviar - lhe por SMS , um pedido de desculpas , mais do que justificado. Não agi bem e reconhecer o erro é o mínimo que posso fazer mesmo sabendo que nada se irá alterar.Com alguma surpresa leio a sua pronta resposta .

Sabemos que a palavra escrita difere da palavra dita. Nao temos os olhos nos olhos , não existe a presença fisica do outro e só isso faz com que se trasmita de forma diferente o que queremos comunicar. Sabendo disso , fico com uma esperança , sinto que as portas não se fecharam totalmente e isso deixa - me menos deprimido e um pouco mais animado. Sei que se trata de um equilibrio precário e muito frágil mas percebo que a ligação não se perdeu por completo , que poderá haver lugar , por mais ténue que seja , a um entendimento e mútua compreensão. Não posso contar com a harmonia desejável mas pelo menos um filamento de luz ficou aceso.

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