terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Zygmunt Bauman: “As redes sociais são uma armadilha”



Zygmunt Bauman acaba de completar 90 anos de idade e de tomar dois voos para ir da Inglaterra ao debate do qual participa em Burgos (Espanha). Está cansado, e admite logo ao começar a entrevista, mas se expressa com tanta calma quanto clareza. Sempre se estende, em cada explicação, porque detesta dar respostas simples a questões complexas. Desde que colocou, em 1999, sua ideia da “modernidade líquida” – uma etapa na qual tudo que era sólido se liquidificou, e em que “nossos acordos são temporários, passageiros, válidos apenas até novo aviso” –, Bauman se tornou uma figura de referência da sociologia. Suas denúncias sobre a crescente desigualdade, sua análise do descrédito da política e sua visão nada idealista do que trouxe a revolução digital o transformaram também em um farol para o movimento global dos indignados, apesar de que não hesita em pontuar suas debilidades.


O polonês (Poznan, 1925) era criança quando sua família, judia, fugiu para a União Soviética para escapar do nazismo, e, em 1968, teve que abandonar seu próprio país, desempossado de seu posto de professor e expulso do Partido Comunista em um expurgo marcado pelo antissemitismo após a guerra árabe-israelense. Renunciou à sua nacionalidade, emigrou a Tel Aviv e se instalou, depois, na Universidade de Leeds (Inglaterra), onde desenvolveu a maior parte de sua carreira. Sua obra, que arranca nos anos 1960, foi reconhecida com prêmios como o Príncipe das Astúrias de Comunicação e Humanidades de 2010, que recebeu junto com Alain Touraine.
Bauman é considerado um pessimista. Seu diagnóstico da realidade em seus últimos livros é sumamente crítico. Em A riqueza de poucos beneficia todos nós?, explica o alto preço que se paga hoje em dia pelo neoliberalismo triunfal dos anos 80 e a “trintena opulenta” que veio em seguida. Sua conclusão: a promessa de que a riqueza acumulada pelos que estão no topo chegaria aos que se encontram mais abaixo é uma grande mentira. Em Cegueira moral, escrito junto com Leonidas Donskis, Bauman alerta sobre a perda do sentido de comunidade em um mundo individualista. Em seu novo ensaio, Estado de crise, um diálogo com o sociólogo italiano Carlo Bordoni, volta a se destacar. O livro da editora Zahar, que já está disponível para pré-venda no Brasil, trata de um momento histórico de grande incerteza.
Bauman volta a seu hotel junto com o filósofo espanhol Javier Gomá, com quem debateu no Fórum da Cultura, evento que terá sua segunda edição realizada em novembro e que traz a Burgos os grandes pensadores mundiais. Bauman é um deles.
Pergunta. Você vê a desigualdade como uma “metástase”. A democracia está em perigo?
Resposta. O que está acontecendo agora, o que podemos chamar de crise da democracia, é o colapso da confiança. A crença de que os líderes não só são corruptos ou estúpidos, mas também incapazes. Para atuar, é necessário poder: ser capaz de fazer coisas; e política: a habilidade de decidir quais são as coisas que têm ser feitas. A questão é que esse casamento entre poder e política nas mãos do Estado-nação acabou. O poder se globalizou, mas as políticas são tão locais quanto antes. A política tem as mãos cortadas. As pessoas já não acreditam no sistema democrático porque ele não cumpre suas promessas. É o que está evidenciando, por exemplo, a crise de migração. O fenômeno é global, mas atuamos em termos paroquianos. As instituições democráticas não foram estruturadas para conduzir situações de interdependência. A crise contemporânea da democracia é uma crise das instituições democráticas.
"Foi uma catástrofe arrastar a classe media ao precariat. O conflito já não é entre classes, mas de cada um com a sociedade”
P. Para que lado tende o pêndulo que oscila entre liberdade e segurança?
R. São dois valores extremamente difíceis de conciliar. Para ter mais segurança é preciso renunciar a certa liberdade, se você quer mais liberdade tem que renunciar à segurança. Esse dilema vai continuar para sempre. Há 40 anos, achamos que a liberdade tinha triunfado e que estávamos em meio a uma orgia consumista. Tudo parecia possível mediante a concessão de crédito: se você quer uma casa, um carro... pode pagar depois. Foi um despertar muito amargo o de 2008, quando o crédito fácil acabou. A catástrofe que veio, o colapso social, foi para a classe média, que foi arrastada rapidamente ao que chamamos de precariat (termo que substitui, ao mesmo tempo, proletariado e classe média). Essa é a categoria dos que vivem em uma precariedade contínua: não saber se suas empresas vão se fundir ou comprar outras, ou se vão ficar desempregados, não saber se o que custou tanto esforço lhes pertence... O conflito, o antagonismo, já não é entre classes, mas de cada pessoa com a sociedade. Não é só uma falta de segurança, também é uma falta de liberdade.
P. Você afirma que a ideia de progresso é um mito. Por que, no passado, as pessoas acreditavam em um futuro melhor e agora não?
R. Estamos em um estado de interregno, entre uma etapa em que tínhamos certezas e outra em que a velha forma de atuar já não funciona. Não sabemos o que vai a substituir isso. As certezas foram abolidas. Não sou capaz de profetizar. Estamos experimentando novas formas de fazer coisas. A Espanha foi um exemplo com aquela famosa iniciativa de maio (o 15-M), em que essa gente tomou as praças, discutindo, tratando de substituir os procedimentos parlamentares por algum tipo de democracia direta. Isso provou ter vida curta. As políticas de austeridade vão continuar, não podiam pará-las, mas podem ser relativamente efetivos em introduzir novas formas de fazer as coisas.
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O sociólogo Zygmunt Bauman. /

P. Você sustenta que o movimento dos indignados “sabe como preparar o terreno, mas não como construir algo sólido”.
R. O povo esqueceu suas diferenças por um tempo, reunido na praça por um propósito comum. Se a razão é negativa, como se indispor com alguém, as possibilidades de êxito são mais altas. De certa forma, foi uma explosão de solidariedade, mas as explosões são muito potentes e muito breves.
P. E você também lamenta que, por sua natureza “arco íris”, o movimento não possa estabelecer uma liderança sólida.
R. Os líderes são tipos duros, que têm ideias e ideologias, o que faria desaparecer a visibilidade e a esperança de unidade. Precisamente porque não tem líderes o movimento pode sobreviver. Mas precisamente porque não tem líderes não podem transformar sua unidade em uma ação prática.
P. Na Espanha, as consequências do 15-M chegaram à política. Novos partidos emergiram com força.
"O 15-M, de certa forma, foi uma explosão de solidariedade, mas as explosões são potentes e breves"
R. A mudança de um partido por outro não vai a resolver o problema. O problema hoje não é que os partidos estejam equivocados, e sim o fato de que não controlam os instrumentos. Os problemas dos espanhóis não estão restritos ao território nacional, são globais. A presunção de que se pode resolver a situação partindo de dentro é errônea.
P. Você analisa a crise do Estado-nação. Qual é a sua opinião sobre as aspirações independentistas da Catalunha?
R. Penso que continuamos com os princípios de Versalhes, quando se estabeleceu o direito de cada nação baseado na autodeterminação. Mas isso, hoje, é uma ficção porque não existem territórios homogêneos. Atualmente, todas as sociedades são uma coleção de diásporas. As pessoas se unem a uma sociedade à qual são leais, e pagam impostos, mas, ao mesmo tempo, não querem abrir mão de suas identidades. A conexão entre o local e a identidade se rompeu. A situação na Catalunha, como na Escócia ou na Lombardia, é uma contradição entre a identidade tribal e a cidadania de um país. Eles são europeus, mas não querem ir a Bruxelas por Madri, mas via Barcelona. A mesma lógica está emergindo em quase todos os países. Mantemos os princípios estabelecidos no final da Primeira Guerra Mundial, mas o mundo mudou muito.
P. As redes sociais mudaram a forma como as pessoas protestam e a exigência de transparência. Você é um cético sobre esse “ativismo de sofá” e ressalta que a Internet também nos entorpece com entretenimento barato. Em vez de um instrumento revolucionário, como alguns pensam, as redes sociais são o novo ópio do povo?
R. A questão da identidade foi transformada de algo preestabelecido em uma tarefa: você tem que criar a sua própria comunidade. Mas não se cria uma comunidade, você tem uma ou não; o que as redes sociais podem gerar é um substituto. A diferença entre a comunidade e a rede é que você pertence à comunidade, mas a rede pertence a você. É possível adicionar e deletar amigos, e controlar as pessoas com quem você se relaciona. Isso faz com que os indivíduos se sintam um pouco melhor, porque a solidão é a grande ameaça nesses tempos individualistas. Mas, nas redes, é tão fácil adicionar e deletar amigos que as habilidades sociais não são necessárias. Elas são desenvolvidas na rua, ou no trabalho, ao encontrar gente com quem se precisa ter uma interação razoável. Aí você tem que enfrentar as dificuldades, se envolver em um diálogo. O papa Francisco, que é um grande homem, ao ser eleito, deu sua primeira entrevista a Eugenio Scalfari, um jornalista italiano que é um ateu autoproclamado. Foi um sinal: o diálogo real não é falar com gente que pensa igual a você. As redes sociais não ensinam a dialogar porque é muito fácil evitar a controvérsia… Muita gente as usa não para unir, não para ampliar seus horizontes, mas ao contrário, para se fechar no que eu chamo de zonas de conforto, onde o único som que escutam é o eco de suas próprias vozes, onde o único que veem são os reflexos de suas próprias caras. As redes são muito úteis, oferecem serviços muito prazerosos, mas são uma armadilha.
Estado de crise. Zygmunt Bauman e Carlo Bordoni. Editora Zahar. 192 págs., 39,90 reais.
"el país/brasil" - 9jan16

sábado, 23 de janeiro de 2016

Sobre António Lobo Antunes

“É a forma. É a forma que traz o conteúdo. E usar palavras simples, que todos reconhecemos, numa construção de sons. Muito musical, muito sinfónico, e o cuidado de nada estar mal no seu sítio, como se a escrita se pudesse partir por uma palavra mal posta. Uma palavra estraga página toda. E acho que cada página tem sempre um grande achado, uma grande imagem, uma grande metáfora”, refere Rui Cardoso Martins...






http://www.publico.pt/n1720707

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

LOLA FLORES AY PENA, PENITA, PENA


As subvenções do nosso descontentamento

Como dizia o Padre António Vieira: (passo a citar), “Se servistes à pátria que vos foi ingrata, vós fizestes o que devíeis, ela o que costuma. Mas que paga maior para um coração honrado que ter feito o que devia? Quando fizestes o que devíeis, então vos pagastes”, e continuava, “O que devíamos fazer isso, fizemos. Quem fez o que devia, devia o que fez, e ninguém espera paga de pagar o que deve. Se servi, se pelejei, se trabalhei, se venci, fiz o que devia à pátria, fiz o que me devia a mim mesmo, e quem se desempenhou de tamanhas dívidas, não há-de esperar outra paga. Alguns há tão desvanecidos que cuidam que fizeram mais do que deviam. Enganam-se. Quem mais é e mais pode, mais deve”, fim de citação.
E A M A M A CONTINUA???!!!



(comentário de Manuel Brandão ao artigo de Carlos Rodrigues Lima , publicado no www.dn.pt em 21jan2016)




http://www.dn.pt/portugal/interior/tribunal-receava-que-expoliticos-ficassem-dependentes-da-familia-4990926.html

Na expectativa...

... espero , a todo o instante , estar preparado para o que me vai acontecer. Como um soldado na trincheira...
Sempre foi assim! É coisa antiga: um misto de ansiedade e receio ; inoculados sem que eu tivesse dado conta , cedo se instalaram em mim , desde cedo me apertam o coração.


A juntar a isto , a preguiça! Intrínseca ou sobrevinda , ei-la , companheira, concubina , amiga da onça...


Mistura inconveniente e explosiva!...


Por causa disto  ou , melhor , também por causa disto estou agora sozinho em casa , sentado no sofá , na expectativa...
Na expectativa que o tempo recue e me transporte ao momento , lá atrás , algures na infância , onde me perdi e a minha alma se desencontrou; onde perdi a confiança no ser humano , logo , por consequência, em mim próprio.


Momento doloroso! ontem, quando aconteceu e agora , que o recordo.

Tudo o que vamos poder ler durante este ano

Para 2016. Uma opinião:




Tudo o que vamos poder ler durante este ano

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Johnny Hooker - Amor Marginal

Não foi bem assim mas foi muito parecido...

A triste geração que virou escrava da própria carreia

Por Revista Pazes, 19jan2016


E a juventude vai escoando entre os dedos.

Era uma vez uma geração que se achava muito livre.
Tinha pena dos avós, que casaram cedo e nunca viajaram para a Europa.
Tinha pena dos pais, que tiveram que camelar em empreguinhos ingratos e suar muitas camisas para pagar o aluguel, a escola e as viagens em família para pousadas no interior.
Tinha pena de todos os que não falavam inglês fluentemente.
Era uma vez uma geração que crescia quase bilíngue. Depois vinham noções de francês, italiano, espanhol, alemão, mandarim.
Frequentou as melhores escolas.
Entrou nas melhores faculdades.
Passou no processo seletivo dos melhores estágios.
Foram efetivados. Ficaram orgulhosos, com razão.
E veio pós, especialização, mestrado, MBA. Os diplomas foram subindo pelas paredes.
Era uma vez uma geração que aos 20 ganhava o que não precisava. Aos 25 ganhava o que os pais ganharam aos 45. Aos 30 ganhava o que os pais ganharam na vida toda. Aos 35 ganhava o que os pais nunca sonharam ganhar.
Ninguém podia os deter. A experiência crescia diariamente, a carreira era meteórica, a conta bancária estava cada dia mais bonita.
O problema era que o auge estava cada vez mais longe. A meta estava cada vez mais distante. Algo como o burro que persegue a cenoura ou o cão que corre atrás do próprio rabo.
O problema era uma nebulosa na qual já não se podia distinguir o que era meta, o que era sonho, o que era gana, o que era ambição, o que era ganância, o que necessário e o que era vício.
O dinheiro que estava na conta dava para muitas viagens. Dava para visitar aquele amigo querido que estava em Barcelona. Dava para realizar o sonho de conhecer a Tailândia. Dava para voar bem alto.
Mas, sabe como é, né? Prioridades. Acabavam sempre ficando ao invés de sempre ir.
Essa geração tentava se convencer de que podia comprar saúde em caixinhas. Chegava a acreditar que uma hora de corrida podia mesmo compensar todo o dano que fazia diariamente ao próprio corpo.
Aos 20: ibuprofeno. Aos 25: omeprazol. Aos 30: rivotril. Aos 35: stent.
Uma estranha geração que tomava café para ficar acordada e comprimidos para dormir.
Oscilavam entre o sim e o não. Você dá conta? Sim. Cumpre o prazo? Sim. Chega mais cedo? Sim. Sai mais tarde? Sim. Quer se destacar na equipe? Sim.
Mas para a vida, costumava ser não:
Aos 20 eles não conseguiram estudar para as provas da faculdade porque o estágio demandava muito.
Aos 25 eles não foram morar fora porque havia uma perspectiva muito boa de promoção na empresa.
Aos 30 eles não foram no aniversário de um velho amigo porque ficaram até as 2 da manhã no escritório.
Aos 35 eles não viram o filho andar pela primeira vez. Quando chegavam, ele já tinha dormido, quando saíam ele não tinha acordado.
Às vezes, choravam no carro e, descuidadamente começavam a se perguntar se a vida dos pais e dos avós tinha sido mesmo tão ruim como parecia.
Por um instante, chegavam a pensar que talvez uma casinha pequena, um carro popular dividido entre o casal e férias em um hotel fazenda pudessem fazer algum sentido.
Mas não dava mais tempo. Já eram escravos do câmbio automático, do vinho francês, dos resorts, das imagens, das expectativas da empresa, dos olhares curiosos dos “amigos”.
Era uma vez uma geração que se achava muito livre. Afinal tinha conhecimento, tinha poder, tinha os melhores cargos, tinha dinheiro.
Só não tinha controle do próprio tempo.
Só não via que os dias estavam passando.
Só não percebia que a juventude estava escoando entre os dedos e que os bônus do final do ano não comprariam os anos de volta.

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Sócrates . um activo tóxico


Um artigo de José Pacheco Pereira no Público de 19dez2015:


«O que é tóxico em Sócrates é que a sua postura pública representa objectivamente a indiferença nos partidos face a condutas reprováveis no sistema político português.»


http://www.publico.pt/n1717871

Névoa , névoa , névoa...

"Sampaio da Nóvoa: purificar o dialeto da tribo"

Observador - 18 Janeiro 2016




Nestas eleições, um candidato teve direito a três - três - biografias. Rogério Casanova leu os livros dedicados a António Sampaio da Nóvoa à procura do "tempo novo".


A nossa relação inquieta com a retórica é visível nos adjetivos com que mais frequentemente a qualificamos. Tal como a ironia é quase sempre “fina”, a retórica arrisca-se a ser quase sempre “vazia”, “oca”, ou, na melhor das hipóteses, “mera”. Criada como um instrumento de persuasão, é muitas vezes encarada como uma forma de nos persuadir a concordar com algo que vai contra os nossos interesses, ou a aceitar uma verdade no mínimo incompleta.
Esta ansiedade não é um fenómeno recente. É uma aposta segura que no primeiro momento histórico em que alguém discursou para apelar ao voto, alguém na plateia torceu o nariz. (Outra aposta segura: no segundo momento histórico em que alguém discursou para apelar ao voto, alguém na plateia terá balbuciado “estes tipos são todos iguais”). Recordo uma aula de Filosofia do 10.º ano quando, depois de ler a longa diatribe contra os Sofistas no Górgias na qual Sócrates diz que a retórica está para a política como a pastelaria está para a medicina, o professor perguntou a uma turma confusa e alarmada: “Perceberam, espero, que ele está a falar daqueles pasteleiros todos que ouviram recentemente na televisão?”. A campanha para as legislativas de 1995 encerrara poucos dias antes.


Por mais trágica, penosa ou abjecta que muitos considerem a actual, a última, ou a penúltima presidência, creio ser mais ou menos consensual que ainda não elegemos um presidente clinicamente louco. Estamos, nesse aspecto, todos de parabéns.


Lendo as biografias recentemente publicadas de António Sampaio da Nóvoa (O Candidato Improvável, por Filipe S. Fernandes e Evidentemente a Liberdade, por Fernando Madaíl, além do relato na 1ª pessoa que concluí Política de Vida) é difícil imaginar que, ao longo de uma longa e prestigiada carreira docente, alguma vez tenha dito algo tão cínico aos seus alunos. Não necessariamente por especial reverência pela classe política, ou pela classe pasteleira, mas pelo respeito que afirma ter pelas palavras enquanto instrumento de mudança. Num discurso de 25 de Maio, no Teatro Rivoli, comentou assim a habitual subalternização da retórica: “São só palavras?! Que desdém pela língua, pela cultura, pelas histórias! (…) Comigo a palavra conta, e muito”.


É um alívio sabê-lo: assumir que as palavras contam, e que podem e devem ter consequências, é um excelente ponto de partida. Um parágrafo de O Candidato Improvável começa com as seguintes palavras: “Há um episódio que mostra que a sua luta contra a austeridade não era apenas retórica”. O episódio em questão é o célebre despacho emitido por Vítor Gaspar em Abril de 2013, na sequência da decisão do Tribunal Constitucional impedindo todo os serviços do sector público e da administração central de contrair nova despesa sem autorização prévia. Sampaio da Nóvoa, ainda reitor da Universidade de Lisboa, reagiu no dia seguinte com um comunicado que criticava o “gesto insensato e inaceitável”. O amigo, e atual diretor da FPCEUP, José Alberto Correia “também não queria cumprir” e pergunta-lhe, “e o que vais fazer?”. A resposta de Nóvoa é transcrita assim: “Isso não sei…”. O parágrafo – e o assunto – terminam pouco depois.
Como exemplo ilustrativo de algo que transcende a “mera retórica”, o relato é manifestamente insatisfatório. Não será justo, no entanto, culpar o biografado pelas ciladas involuntárias do seu biógrafo, e talvez um cenário de impotência administrativa não seja o melhor para adjetivar retóricas, ou avaliar a ligação de causalidade entre princípios e ação política.

Abstracções e soundbites

E no entanto é duvidoso que uma corrida à Presidência da República seja mais propícia para o efeito. Se uma campanha para legislativas ou autárquicas pode admitir, em teoria, discussões pormenorizadas sobre quem privilegiar ou punir na angariação de dinheiro para alcatroar aquele itinerário complementar, numa campanha presidencial a redução das complexidades práticas da governação a abstrações e soundbites é um expediente inevitável. O nosso semi-presidencialismo, por desígnio constitucional e prática política, foi consolidando um curioso estatuto para a figura do Presidente, cujo sufrágio tem sido uma espécie de atribuição de prémio de carreira, e cujas funções se podem resumir mais ou menos assim: 1) não deve ser doido; 2) deve certificar-se que o executivo não é doido; 3) deve fiscalizar a possibilidade de ser aprovada legislação doida; 4) deve falar ocasionalmente à nação, sobre matérias avulsas, de forma o menos doida possível. Dentro destes tolerantes e elásticos limites, a coisa tem-se cumprido. Por mais trágica, penosa ou abjeta que muitos considerem a atual, a última, ou a penúltima presidência, creio ser mais ou menos consensual que ainda não elegemos um presidente clinicamente louco. Estamos, nesse aspeto, todos de parabéns.
Mas quer se candidate a contra-poder, a árbitro crítico, ou a sonolento parceiro institucional, quem concorre à presidência é tacitamente encorajado, pelo sistema e por nós, a empregar a retórica mais vaga possível. Especificar com precisão aquilo que se tenciona permitir ou impedir implica especificar com igual precisão todos aqueles que não vão concordar. A ortodoxia verbal é a forma mais segura de não provocar o pânico. E ninguém sofre, a não ser a linguagem.


Simon Hoggart, o falecido correspondente parlamentar do Guardian, cunhou a sua “Law of Absurd Opposites” para aferir a vacuidade do discurso político: quanto mais próxima do “0” é a probabilidade de algum eleitor concordar com o sentimento expresso caso os termos fossem rigorosamente invertidos, mais desnecessário é expressar o sentimento. Um exemplo: se nunca na história da humanidade um candidato a um cargo público nos informou que pretendia “lutar por um país pior”, será escusado garantir-nos o contrário – e todavia quase quase todos fazem.


Não é tarefa fácil comunicar uma retórica de substância dentro deste aflitivo conjunto de restrições.
Política de Vida, publicado pela Tinta-da-China em Dezembro, colige a “Carta de Princípios” de Sampaio da Nóvoa, as transcrições de três discursos, incluindo o de apresentação da candidatura, e um breve texto autobiográfico. São 142 páginas ao longo das quais se esperaria que uma candidatura que procurou desde a origem diferenciar-se dos hábitos e práticas de sempre comunicasse retoricamente essa diferença. Eis o resultado.
Para começar, alguns auxiliares de orientação cronológica: “A esperança é hoje”; “Este é o tempo do futuro”; “Chegou o nosso tempo, o tempo de acordar, o tempo de despertar”.
Depois, aquilo que é preciso: “É preciso trazer a vida para dentro da política, com humanidade. É preciso unir uma sociedade rasgada, juntando os portugueses e as portuguesas numa luta comum, sem medo de existir” (há outras coisas que são precisas, nomeadamente “construir pontes”).


Nos seus discursos, que também reproduz em livro, António Sampaio da Nóvoa faz algumas promessas (poucas, mas boas). Por exemplo, esta: “Prometo agir com integridade e honradez”.


De seguida, o tipo de Presidente que será: “Serei Presidente com todos os portugueses, cuidando de maneira especial dos mais frágeis, dos mais sacrificados pela crise, dos mais desprotegidos”; “comprometo-me a ser um Presidente presente, próximo das pessoas, capaz de ouvir, de cuidar, de proteger”.
Promessas (poucas, mas boas): “Prometo agir com integridade e honradez”; “Há muitas promessas que não posso, nem devo fazer, mas o compromisso de estar sempre ao lado dos portugueses, sobretudo dos mais desprotegidos, é um compromisso solene, absoluto, que quero assumir por inteiro”.
Por fim, alguns “compromissos” e “propostas concretas”, para lidar com problemas concretos: “Temos de encontrar soluções” (para a dívida); “devemos associar-nos a uma reflexão” (sobre o futuro das políticas económicas na União Europeia); “estarei especialmente atento” (a situações que reduzam a soberania nacional); “não me resignarei” (perante a pobreza); “não serei insensível” (ao sofrimento); “dedicarei uma especial atenção” (à transparência e responsabilidade na vida pública); “estarei particularmente atento” (à igualdade); “serei um Presidente empenhado” (na dignificação das Forças Armadas); “procurarei promover” (uma ligação entre o país e as Forças Armadas); “não serei um espectador impávido” (perante a degradação da vida pública); “não me resignarei” (perante a destruição do Estado Social).
E como bónus para todos os que se sentem alarmados com excessos de especificidade e originalidade: “Empenhar-me-ei na resolução das questões nacionais mais graves. Tentarei antecipar os problemas, propor, agir para que se alcancem soluções sólidas e duradouras”. “Apoiarei todas as mudanças que façam de nós um país mais moderno e mais justo, mais competitivo e mais capaz”.


E agora um quiz rápido:
Quem apresentou a candidatura reforçando a sua “independência e liberdade” e frisando “a necessidade de construir pontes”? (Sampaio da Nóvoa e Marcelo Rebelo de Sousa, 2015).
Quem prometeu “tudo fazer para reforçar a qualidade da nossa democracia”? (Sampaio da Nóvoa, 2015 e Cavaco Silva, 2005).
Quem garantiu nunca se resignar “perante o aumento do desemprego e o empobrecimento? (Sampaio da Nóvoa, 2015 e Cavaco Silva, 2005).
Quem defendeu que o Presidente deve “mobilizar as energias do país” e da “cidadania”? (Sampaio da Nóvoa, 2015 e Manuel Alegre, 2005).
Quem abriu na sua candidatura um espaço para as vozes dos que “não têm voz”? (Sampaio da Nóvoa, 2015 e Fernando Nobre, 2011)
Quem disse lutar por “uma sociedade mais justa”? (Sampaio da Nóvoa, 2015, Cavaco Silva, 2005, Maria de Belém, 2015, Marcelo Rebelo de Sousa, 2015)
Quem afirmou que “esta candidatura incomoda muita gente”? (Sampaio da Nóvoa, 2015, Manuel Alegre, 2006, Fernando Nobre, 2011, José Manuel Coelho, 2011)


Uma das acusações mais frequentes a Sampaio da Nóvoa é a do “discurso vazio”. Mais do que injusta, a acusação é irrelevante. Não é mais nem menos vazio do que outros candidatos presidenciais, do presente e do passado. 


Um pastiche compenetrado

Apesar de “a língua portuguesa constituir um dos nossos principais patrimónios” (Sampaio da Nóvoa, 2015 e, assumo, todos os outros) a questão aqui não é sequer de méritos literários, mas do género a que tão assumidamente tudo isto pertence: o género das coisas que um candidato, qualquer candidato, diz.
Para alguém empenhado em “regenerar” a prática política, havia forma mais óbvia e eloquente de o fazer que começar por reabilitar a linguagem, por importar para o fatigado discurso das “políticas velhas” uma nova forma de afirmar (nem que fossem) as mesmas verdades incontestáveis, por fazer circular nos contextos de sempre uma retórica original? É difícil levar a sério a retórica de uma candidatura “diferente” e regeneradora quando a vemos esbanjar assim a oportunidade de purificar o dialeto da tribo e, ao invés, naturalizar-se com tamanha facilidade.
Uma das acusações mais frequentes a Sampaio da Nóvoa é a do “discurso vazio”. Mais do que injusta, a acusação é irrelevante. Não é mais nem menos vazio do que outros candidatos presidenciais, do presente e do passado. O que a “Carta de Princípios” e os discursos centrais têm demonstrado é uma total e competentíssima absorção da mais pura ortodoxia das campanhas eleitorais portuguesas: os gestos e os maneirismos, a linguagem e as regras do jogo. O pastiche é tão compenetrado que só pode ser homenagem voluntária – e sincera. Nesse aspeto, pelo menos, os receios que Sampaio da Nóvoa afirma distinguir nos seus adversários são infundados. Se existe realmente entre as “elites” e as “coutadas” o medo de uma “pessoa de fora” trazendo consigo uma “nova forma de fazer política”, podem ficar todos descansados: aqui está um candidato que soa exatamente igual a eles.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Derrota ideológica e vitória política

Por:


Muitas vezes pergunto se a maioria daquilo que hoje passa por ser um radicalismo da esquerda (e que a direita saliva ao ouvir) não é pouco mais do que moderadamente social-democrata ou democrata-cristão.




Uma coisa a esquerda deve compreender com toda a clareza: a direita venceu a batalha ideológica nos últimos anos. Mais: essa vitória tem profundas repercussões nos anos futuros e molda a opinião pública. É uma vitória muito perigosa e pegajosa, porque se coloca no terreno daquilo que os sociólogos chamam “background assumptions”, molda o nosso pensamento sem trazer assinatura, parece a “realidade” quando é uma construção ideológica. No entanto, convém não confundir duas coisas distintas, a ideologia e política. E a direita perdeu a batalha política, o que ajuda a ocultar a sua vitória ideológica. O problema é que a solidez da vitória ideológica é maior do que a solidez da vitória política.
Para começar, obrigou-me a contragosto a ter que retomar uma linguagem esquerda-direita, que de há muito penso estar ultrapassada e ter mais equívocos do que vantagens. Sim, já sei, conheço a frase de Alain sobre que quem pensa que não é de esquerda nem de direita é de direita, mas hoje a frase oculta mais do que revela.
Considero este retorno a um quadro de dualidades, que só pode ser usado numa perspectiva histórica ou sentimental, um dos estragos mais recentes sobre possibilidade de se sair de uma política do passado. Pode servir para dar identidade, mas explica cada vez menos o que se passa. Um exemplo, é a crítica ao consumismo oriunda da esquerda que preparou o terreno e encaixou perfeitamente na crítica da direita ao “viver acima das suas posses”, em ambos os casos centrando-se na culpabilização dos consumos típicos da classe média. Mais do que de esquerda e direita, estas posições são socialmente reaccionárias.
Num país em que a construção de uma classe média é recente e traz consigo uma nova liberdade face à pobreza e à memória recente da pobreza, isso significa pôr em causa muitos aspectos do mecanismo de elevador social e abre caminho, por exemplo, à negação de que a educação possa ser um elemento fundamental dessa ascensão social. Alguns autores usam a crítica à ideologia republicana da “escola” para pôr em causa aquilo a que chamam o “mito” da educação.
A verdade é que em termos ideológicos, e também em termos políticos, passámos do cinema para a lanterna mágica. Andámos para trás, e isso acontece mais vezes do que aquilo que se deseja. Com a experiência de um Tea Party à portuguesa, ficamos “liberais” à americana. Por isso, lá tive, a contragosto e moendo-me todo, que voltar a falar a linguagem paupérrima da dualidade esquerda-direita.
Este retorno ao dualismo esquerda-direita foi uma vitória do PP de Monteiro-Portas e do Bloco de Esquerda. A sua vítima foi o centro político e o antigo PSD reformista. Ver o PSD de Passos e seus amigos a aceitar com toda a naturalidade serem classificados de direita, foi uma ruptura clara e explícita com o PSD de Sá Carneiro. Do outro lado, o PS evitou cuidadosamente auto nomear-se de esquerda, como se a palavra tivesse sarna, já para não dizer que os diminuía face aos seus novos amigos da banca e dos negócios nos últimos anos. A “terceira via” foi o caminho. Renderam-se todos aos “mercados” como Deus ex machina da política e isso desarmou-os ideologicamente.
Por isso, todo o espectro político está puxado à direita e, por reflexo, deixou apenas franjas na esquerda. As verdadeiras fracturas são hoje de outro tipo e não ganham nada em serem pensadas na dicotomia esquerda-direita. O caso mais flagrante é a questão da democracia e soberania, a perda de poderes do voto dos portugueses, cujo parlamento não tem capacidade orçamental, e a entrega à burocracia transnacional de Bruxelas dos principais instrumentos de governação de um país que era suposto ser independente, ou seja, é mais importante a posição face à “Europa”. E aqui a divisão esquerda-direita não é fácil de fazer.
Mais relevante para perceber o que se passou é ver como o programa social virou parte do centro e da direita para o radicalismo e puxou parte da esquerda para ocupar esse centro. Será que a esquerda não se interroga se muitas das medidas que hoje enuncia como sendo o supra-sumo da esquerda, como seja a reposição de salários e pensões, não são propriamente de esquerda, e só se tornaram de esquerda pela radicalização da direita? Muitas vezes pergunto se a maioria daquilo que hoje passa por ser um radicalismo da esquerda (e que a direita saliva ao ouvir) não é pouco mais do que moderadamente social-democrata ou democrata-cristão.
Ainda recentemente ouvi com atenção uma intervenção de Marisa Matias fazendo para mim uma classificação interior daquilo que era ideologicamente de esquerda e, com excepção da questão das privatizações versus nacionalizações, tudo era da mais pacífica doutrina social da igreja, podia ser dito pela Caritas, por um democrata cristão ou um social-democrata se ainda os houvesse. Até o Papa Francisco, nestes termos, estaria muito mais à esquerda.
O mal é da Marisa Matias? Não, é de nos termos deixado enredar numa confusão entre o interlocutor e o conteúdo da interlocução. Por isso, exames, pensões, reformas, feriados, tudo passou a ser não apenas de esquerda, mas do radicalismo de esquerda, apenas porque só partidos que se auto-classificam de esquerda o fazem. Aceitar que alguém diga isto sem um atestado de ignorância ou uma gargalhada mostra a nossa pauperização política e ideológica.
É por isso que um deputado do ex-PaF se dizia muito surpreendido por o Bloco de Esquerda defender o feriado do Corpo de Deus, sem perceber que o problema é ele ter colocado uma vulgata do “economês” acima de um dia em que se reza ao divino e em que a Igreja quer que as mundanais preocupações dêem lugar à fé. O que se passou é que a radicalização da direita deixou um terreno vazio ao centro que faz com que uma esquerda moderadíssima pareça o bolchevique com uma faca entre os dentes.
A aceitação de que a classificação política dos outros seja feita pela direita radical, coisa que a ala direita do PS interiorizou completamente, é um dos aspectos dessa vitória ideológica. A direita mais radical interiorizou em muitos portugueses um modo de pensar, uma maneira de defrontar os problemas, uma forma de questionar, uma interpretação da vida social, da economia, do estado, que é de facção, mas que muitos aceitam sem questionar.
O esplendor dessa vitória ideológica surge quando um qualquer jornalista puxa do coldre a pergunta “quanto custa?” e “quem paga?”, sempre que se fala de salários, pensões, reformas, diminuição dos horários de trabalhos, qualquer coisa que diga respeito ao mundo do trabalho e não faz o mesmo em todas as outras circunstâncias. Já viram um jornalista confrontar um gestor ou um empresário com a pergunta de “quem paga?” e “quanto custam’” os erros de gestão, a falta de competitividade das empresas devida à má qualidade dos seus empresários, a fuga ao fisco “legal”, etc?
Já viram um jornalista, com a mesma imediaticidade pavloviana do “quem paga?”, perguntar a um banqueiro se ele acha justo que os erros de gestão da banca tenham que ser pagos pelos contribuintes? Não, porque o jornalista já deu na sua cabeça a resposta ideológica, “é preciso salvar o sistema financeiro”.
Por que razão não há sanção moral pública com as muitas pessoas com riqueza acima de um milhão de euros que estão a fazer à pressa doações para escapar à eventualidade de o governo PS criar um imposto sucessório, ao mesmo tempo que não perdem oportunidade de penalizarem moralmente os mandriões dos trabalhadores dos transportes?


É isto a fractura entre a esquerda e direita? Não, é uma fractura que um homem ou mulher honesto, podem colocar noutras palavras como seja a decência. Se admitirmos que há “bom senso” no pensamento, então também podemos admitir que o “bom senso” da ética é a decência.


Recoloquemos aí muito daquilo que é hoje uma falsa fractura ideológica, não porque isso seja um limbo ideológico, mas porque essa recolocação ajuda a limpar o terreno. Depois podemos partir para as fracturas ideológicas do passado, que conhecemos como de esquerda e direita e analisá-las e teremos algumas surpresas pela inversão de alguns papéis. E depois podemos voltar ao limbo inicial para ver se ele subsiste para além de um sistema de valores e se o podemos arrumar de outro modo, limpando-o da superioridade moral que acarreta o uso de valores em política. Para combater a ideologia da direita radical precisamos de algum retorno à moralidade, como os espanhóis compreenderam com as suas “marchas pela dignidade”, e depois então vamos à política pura e dura para nos desentendermos, a boa coisa do debate em democracia e liberdade.

À nossa porta ( Irão 'vs' Arábia Saudita)

Por:                     


Se o choque entre o Irão (xiita) e a Arábia (sunita) não for evitado, acabará por se estender da Turquia a Marrocos, e provavelmente à Índia e à Ásia central.


As fronteiras do Médio Oriente foram impostas, como toda a gente sabe, pelo acordo Sykes-Picot no fim da I Guerra Mundial e tentavam equilibrar as pretensões da Inglaterra e da França. As fronteiras da África do Norte são a consequência de uma guerra de conquista, que começou em meados do século XIX com o último rei de França, Luís Filipe, e em que pouco a pouco se envolveram a Inglaterra, a Itália e mesmo a Alemanha de Guilherme II. Nenhuma destas divisões e redivisões considerou a religião ou a afinidade tribal da gente que ia dispersando pelo mundo a régua e a esquadro, como se ela não valesse mais do que peças sem valor num jogo que não podia de toda a evidência jogar. As coisas correram bem até à guerra contra Hitler e à emergência do petróleo como a principal fonte de energia do Ocidente.  
Dali em diante as grandes potências tiveram de evacuar, a bem ou mal, o Médio Oriente e a África do Norte e deixaram para trás países sem qualquer espécie de viabilidade como o Iraque, ou a Líbia, geralmente governados por velhos funcionários do colonialismo ou por indígenas de confiança, que acabaram por ser submersos por uma civilização primitiva, dirigida pelo fanatismo e pela violência. Hoje o Médio Oriente é o campo livre para as guerras religiosas do islão e naturalmente as facções detestam a interferência do Ocidente em querelas para que o dito Ocidente não é chamado, que não percebe e que vem sempre perturbar com a sua superioridade económica e militar.  Os terroristas de Nova Iorque, de Londres, de Copenhaga ou de Paris querem ficar sozinhos para se exterminarem em paz.
Hoje as duas maiores potências regionais deslizaram para uma situação de guerra não declarada, mas que está em perigo de se tornar uma catástrofe para o Médio Oriente, para o Norte de África e para o mundo. Ora a Europa não tem meios para reagir a essa ameaça. Se o choque entre o Irão (xiita) e a Arábia (sunita) não for evitado, acabará por se estender da Turquia a Marrocos, e provavelmente à Índia e à Ásia central, e não existe força alguma capaz de o sufocar ou reter. Em Portugal, a preocupação com o governo Costa e a campanha presidencial não permitem a menor consciência dos riscos que hoje dia a dia corremos. Mas, consciente ou inconscientemente, sofreremos como o resto da Europa as consequências do conflito que vai crescendo à nossa porta.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

The past is never dead. It’s not even past



O cândido candidato

(Público)


Causa-me até alguma perturbação o tom messiânico com que Sampaio da Nóvoa apregoa o advento de um “tempo novo”




1. Confesso que faço parte do grupo de cidadãos portugueses a quem não foi concedida a graça de se extasiarem com os discursos do Prof. Sampaio da Nóvoa. Causa-me até alguma perturbação o tom messiânico com que o cândido candidato apregoa o advento de um “tempo novo” e proclama as virtudes do angelismo político, por contraposição ao sórdido mundo das combinações e dos interesses estabelecidos. Há mesmo momentos em que não parece estarmos perante um candidato presidencial mas sim diante de alguém que aspira a um estado de verdadeira beatitude. Se virmos bem a coisa, contudo, o discurso não é novo e a pretensão nada tem de original. Uma parte da esquerda portuguesa sempre revelou grande disponibilidade para aderir a uma retórica programaticamente eunuca, conceptualmente ligeira e moralmente demagógica. A razão para que tal suceda poderá residir na necessidade da substituição de utopias desacreditadas e de ambições revolucionárias falhadas. São os herdeiros lusitanos daquilo a que Hegel tão bem definia como as “belas almas”. É claro que essa linha de orientação não pode conduzir senão ao desastre político.
Façamos uma breve excursão histórica. Em 1976, Ramalho Eanes foi eleito Presidente da República com apoio do PS, do PSD e do CDS. A sua eleição garantiu o triunfo de uma concepção de democracia liberal de tipo ocidental e excluiu a possibilidade de sucesso de projectos políticos extremistas de natureza comunista ou terceiro-mundista. Foi um momento capital no processo de consolidação do regime em que felizmente ainda hoje vivemos. Cinco anos depois, porém, o cenário era completamente diferente. O Presidente Ramalho Eanes deixava de contar com o apoio do PSD, do CDS e do Dr. Mário Soares e garantia a sua eleição com a adesão do Partido Comunista, da extrema-esquerda e da maioria do Partido Socialista. O que ocorreu entretanto para que tal acontecesse? Várias coisas, mas sobretudo a propensão exibida pelo então Presidente da República para uma intervenção institucional de natureza antipartidária e mesmo, nalguns casos, a roçar o carácter antipolítico. Esse comportamento suscitou a oposição simultânea de Mário Soares e de Francisco de Sá Carneiro, convictos defensores de um modelo de organização democrática idêntico ao prevalecente no espaço europeu ocidental. Eanes voltou a ganhar, e acabou por terminar o seu segundo mandato da pior forma possível – promovendo a criação de um novo partido político, doutrinariamente ambíguo, vocacionado para a destruição do Partido Socialista e baseado na ficção de uma superioridade moral de conotação populista.
A essência do eanismo consistia precisamente na apologia do ascetismo e no enaltecimento de uma pureza extramundana. Estas ilusões, muito comoventes na sua fase inicial, rapidamente originam profundas e irreversíveis decepções. Assim aconteceu, e aconselha até o pudor a não lembrar o que foi a pesarosa agonia do PRD. É verdade que o contributo do general Ramalho Eanes para a nossa democracia é de tal ordem que supera em muito o lado negativo do seu legado. Todavia, nas presentes circunstâncias, é esse aspecto que deve ser relembrado para relativizarmos algumas supostas novidades absolutas.
O “tempo novo” resume-se afinal ao entendimento alcançado entre o PS e os partidos políticos da extrema-esquerda para garantir a viabilização do actual executivo socialista. Há quem lhe chame, num evidente delírio megalómano, uma espécie de “revolução tranquila”. O gosto pelos oxímoros é próprio de gente desaustinadamente empenhada em encontrar o seu próprio lugar na história, com o que isso revela de um pretensiosismo raramente visto naqueles que se dedicam a desenvolver a sua intervenção cívica e pública de forma mais consentânea com as misérias e as grandezas da realidade humana. Convém, uma vez mais, salientar que os partidos da extrema-esquerda não viveram os últimos quarenta anos num estado de semiclandestinidade institucional, de que teriam sido agora resgatados pela clarividência e superior abertura de espírito de algumas figuras que, até ao momento, também tinham estado bastante desatentas ao sofrimento dessa parte da população portuguesa. Sejamos sérios: são bem prosaicas e conhecidas as razões para este novo entendimento. Custa-me especialmente ver uma parte significativa do Partido Socialista empenhada no elogio de um discurso tão contrário ao carácter mais profundo do partido. É assunto a merecer apurada reflexão futura.
2. Maria de Belém foi presidente do Partido Socialista. A forma como grande parte do PS hoje a trata não pode deixar de suscitar uma clara reprovação. Sampaio da Nóvoa, que apesar da muito apregoada independência beneficia do apoio logístico de grande parte do aparelho socialista, desferiu-lhe ataques violentos no recente debate televisivo que os opôs. Chegou a acusá-la de deserção na defesa da Constituição, pela simples razão de não ter subscrito, enquanto deputada, um pedido de verificação de inconstitucionalidade de algumas normas orçamentais apresentado no Tribunal Constitucional em 2011. Curiosa acusação, que não pode deixar de dar lugar à seguinte interrogação: em relação a esse mesmíssimo assunto como actuaram então Ana Catarina Mendes, Pedro Nuno Santos, João Galamba ou o próprio Ferro Rodrigues? Todos eles, tal como Maria de Belém, eram deputados; nenhum deles, à semelhança da agora candidata, assinou tal documento, pecado que, na criteriosa avaliação do Prof. Nóvoa, os deveria remeter para a categoria de desertores e de traidores ao texto constitucional para todo o sempre. Contudo, estamos a falar precisamente de algumas das principais figuras do tão aclamado “tempo novo”. Basta levantar uma pedra, uma qualquer minúscula pedrinha no meio do nosso complexo caminho, para perceber como algumas pretensas verdades definitivas não passam de simples poeira. Há uma frase de Faulkner que deveríamos ter sempre presente, para evitar certas tolices: “The past is never dead. It’s not even past”.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Presidenciais 2016

Segredos da campanha eleitoral

Comendador Marques de Correia -Expresso , 10jan2016


Sempre atenta, a Coluna de Alterne descobriu vários segredos que os candidatos presidenciais não revelam. Com a consciência de que a revelação de tais segredos pode ser mais terrível do que a violação do segredo de Justiça num caso político, avançamos, sem medo de retaliações, para a sua divulgação[HM1] . Porque temos um lema indelével: o povo deve saber tudo o que nos interessa que ele saiba

1. Sabia que a voz de Marcelo Rebelo de Sousa nos debates não é dele, mas de um locutor do Bloco de Esquerda? Talvez não soubesse, mas esta é a explicação para o facto de Marcelo ter aceitado tão depressa, e sem discussão, salas de chuto, barrigas de aluguer, casamentos homossexuais e coisas que ele jamais aceitaria.

2.Por detrás de Vitorino Dias, mais conhecido por Tino de Rans está a indústria calceteira. Sim, é por isso que o mais conhecido dos socialistas desconhecidos tem meios para fazer uma campanha à altura de um orador motivacional. Só não faz mais barulho e cartazes do que o comunista Edgar Silva, porque a indústria calceteira está quase toda na falência.

3.Maria de Belém mede 1,70 m, mas finge-se baixinha para não gozarem com ela. Esta informação que é da fonte mais pura que conseguimos encontrar no PS (António Vitorino) explica a razão pela qual a candidata tem a voz sempre com um timbre um pouco agudo de mais. Disseram-lhe que para se mascarar de baixinha tinha de ter uma voz fofinha e saiu aquilo.

4.Henrique Neto chama-se, na verdade, Henrique Avô, mas quer parecer mais novo. O candidato não quer que se saiba que é quase octogenário, ou seja, tem pouco menos idade do que Mário Soares e por isso mudou de nome para parecer mais jovem. “Assim ninguém me dá mais do que 78 anos” disse ele.

5.Sampaio da Nóvoa, curiosamente, também é um pseudónimo. A sua admiração pelos ex-presidentes é de tal forma elevada que durante o mandato de Soares se chamou Eanes da Nóvoa; durante o de Jorge Sampaio era ele Soares da Nóvoa e, agora, durante o de Cavaco, optou pelo nome Sampaio da Nóvoa. Depois de 9 de Março, data em que Cavaco abandona Belém, vai chamar-se Cavaco da Nóvoa.

6.Jorge Sequeira não é bem um candidato, mas uma figura publicitária de uma conhecida marca de lentes e armações de óculos. Por isso mesmo, este ‘orador motivacional’ (nome que se dão àqueles que vão vender pílulas de cálcio nos intervalos dos canais por cabo) não se interessa pelo número de votos que vai ter nem por discordar de quem quer que seja.

7.Cândido Ferreira não existe nem está inscrito nos cadernos eleitorais. A sua campanha está a ser feita por um familiar próximo do candidato, que também se chama Cândido Ferreira, mas que nasceu em Cantanhede, vive em Leiria e licenciou-se em Medicina, na Universidade de Coimbra.

8.Marisa Matias não é do Bloco de Esquerda. Apenas está a utilizar o partido como barriga de aluguer. Na verdade, Marisa Matias é do PS mas aquele partido já tinha Maria de Belém, Sampaio da Nóvoa, Tino de Rans e Cândido Ferreira, de modo que a candidata achou que era confusão a mais, depois de se ter aconselhado com António Guterres.

9.Paulo Morais só sabe falar de corrupção, a sua campanha não é opção. Estudos feitos demonstram que este candidato não sabe falar de mais nada desde que conheceu os meandros do futebol. O seu caso foi analisado por vários especialistas e até por um orador motivacional, mas é desesperado. Seja ao pequeno-almoço, ao almoço ou ao jantar, Morais está sempre a fazer denúncias de coisas que não deviam ter sido assim. Só num pequeno-almoço descobriu três galinhas que tinham posto ovos ilegais.

10.Edgar Silva não tem qualquer traço distintivo. Como dizem os franceses what you see is what you get. Ou seja, está-lhe tudo na cara. É o único candidato genuíno, sem truques, 100% comunista virgem, numa imitação da lã. Mas é malandreco.

Mais uma vez...Marcelo

«Em minha opinião o problema com Marcelo é que não consegue vender uma ideia, um projecto uma intenção. Por muito atento que se esteja ao que ele diz, fica a dúvida sobre a razão da candidatura. Marcelo não se candidata para ou por um determinado objectivo, candidata-se porque lhe apetece ser PR. Tem um grande capital de simpatia, é muito conhecido e chegará, para muito eleitores
Já aqui defendi que Nóvoa é o único candidato de projecto, é o candidato da "geringonça", é o candidato do Podemos, do Syritza, do BE, do PC e de Costa. Está entusiasmado, fala em novo ciclo, em nova esperança, no nascimento de um novo Sol.
Quem acha isso uma grande treta, quem acha que Costa se alapardou ao poder, comprando votos ao PC e ao BE, que isto não tem ponta por onde se lhe pegue, que é uma garotada orquestrada por esquerdistas irresponsáveis (ver ministro da educação) não tem um verdadeiro candidato.
Vai engolir Marcelo, mas saberá sempre um pouco a sapo..........»


( comentário de Moncarapacho num artigo de Bernardo Ferrão (Marcelo a Presidente ou a sabonete?), no Expresso de 13jan16 )

Tempo novo ( ? )

«Mas vivemos um "tempo novo", como tem repetidamente afirmado Sampaio da Nóvoa, o candidato apoiado oficialmente por Arnaldo Matos, aka Espártaco. E o que é este "tempo novo", que Nóvoa não conseguiu explicar ainda? Talvez a resposta esteja mesmo aqui: agora, os escândalos são fait-divers sem direito a grande cobertura mediática.  As más notícias são enterradas numa qualquer nona página dos jornais. Quem critica o Governo é "raivoso" e tem mau perder. Nos programas de comentarismo, com honrosas excepções, apenas há direito a elogios ao novo governo e a palavras que destacam o quão maldosos foram os membros do governo anterior. Neste tempo novo, Costa é o messias invencível e nada o pode atingir. Lembro-me que já vivemos um tempo semelhante. Depois veio a bancarrota. »

Excerto do post de Nuno Gouveia - http://31daarmada.blogs.sapo.pt/ - 12jan2016

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Os Amigos

Nos verdes anos em que a amizade define a cor e os contornos do mundo, tive a sorte de ser desafiada por aquela que eu considerava então a minha maior amiga: traiu-me ostensivamente, de todas as maneiras e feitios.


Não lhe perguntei porquê; em assuntos sentimentais nunca vou à luta: penso que aquela pessoa não era para mim, monto-lhe um funeral completo dentro da minha cabeça, paz à sua alma, e nunca mais a vejo, mesmo que a encontre e até lhe diga bom-dia, como quem faz uma vénia diante de uma lápide tumular.


Hoje organizo esses funerais mentais à moda das contemporâneas multinacionais do ramo, mas sem custos: rapidez e eficiência, cafezinho e bolachas, ámen.


Se alguma coisa aprendi com a idade, foi a não me deleitar com o sofrimento, isto é, a não gastar cera com ruins defuntos. A vida é curta - aos cinquenta e tais tenho obrigação de ter percebido pelo menos isso.


Nos idos dessa primeira grande desilusão - descobrir a falsidade de um amigo é muito pior do que perder um amor, pelo menos para mim, porque o erotismo tem razões que a razão desconhece - uma amiga comum decidiu informar-se da causa das malfeitorias dessa amiga perdida.


Era esta: irritava-a a minha insistência em ver a vida como alegria e possibilidade ("um filme de Walt Disney", terá dito ela, com incontido desdém) e queria ensinar-me que a maldade existe. Ter-lhe-ia respondido, se me tivesse predisposto a perder tempo nesse diálogo, que para isso me bastaria o Telejornal, ou a leitura do grande Dostoievski.


Hoje, entendo que ela estava tão zangada com a vida (e até por boas, embora não inelutáveis, razões) que tudo o que eu canhestramente fazia por ela lhe caía no coração com o estrépito pavoroso de uma esmola. Não podia perceber que eu a admirava e amava, porque não dispunha de amor nem admiração por si mesma. Ela idolatrava a inteligência acima de todas as coisas - e eu, com uma sensação de burrice indómita ao lado dela, quase caí nessa idolatria.


Essa primeira desilusão teve a vantagem de me aferrar à felicidade.


Inicialmente por raiva (que é um excelente combustível, digam o que disserem): eu não deixaria que a escuridão em que aquela rapariga persistia tomasse conta da minha vida.


Devo-lhe, afinal de contas, a especial persistência do meu caráter solar; e, se é verdade que esta determinação para o júbilo, para a camaradagem e para o bem comum me tem trazido uma interessante coleção de dissabores, orquestrados pela estúpida inveja que desde sempre viceja na amenidade do clima português, não é menos verdade que os encontros têm sido sempre maiores e melhores do que os desencontros, e na amizade tenho encontrado luz e alento em todos os momentos difíceis.


Não tenho cinco mil amigos, não frequento o Facebook - e, quando o vou espreitar, pasmo com os exaltados ‘gostos’ que as pessoas atribuem a frases, eventos ou pessoas que na vida real criticam e moem à boca pequena.


Gosto do Twitter porque é um bate-boca rápido, incisivo, político e frontal, sem espaço para trocas de favores ou pedidos de prefácios e cunhas.


Celebro com um amor crescente cada um dos amigos autênticos que possuo - e por isso, de ano para ano, tenho vindo a desembaraçar-me dos conhecidos-que-passam-por-amigos, e são a maioria: os que só nos procuram quando precisam de um favor, os que se recusaram a testemunhar por nós, os que se mantiveram ao largo nas épocas difíceis da nossa vida e aparecem, arfantes de saudade, quando adquirimos alguma importância social.


A palavra reciprocidade tornou-se o meu farol. Pronuncio-a devagar a cada início de ano - e o sorriso daqueles que amo e que me amam brilha como um sol inextinguível.


inespedrosa.sol@gmail.com - 6jan2016

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Amor ao Imperfeito

Não me digam que a pessoa que passou por mim, afinal que até tinha defeitos,,, Que a sua beleza tinha falhas... Que não me digam nada, porque se amei as falhas e os defeitos eram talvez o que eu mais amava... Nunca amei pessoas perfeitas.
Amei sempre pessoas com defeitos, com imperfeições, com tiques e traumas. Foram essas pessoas que me deram vida, substancia e crescimento... São essas pessoas q...ue me deixaram um tanto em mim... Nunca quis uma mulher perfeita, porque nunca me conseguiria igualar no seu abraço ou colo. Gosto de vinhos transbordados em cima de mesas de jantar à meia-luz, de sapatos espalhados pelo corredor, porque fazer amor era mais importante. Gosto de banheiras a escorrerem espuma porque são testemunhos de banhos de amor. Gosto de colarinhos com bâton, de migalhas na cama, de risos e gargalhadas pela noite a dentro... Gosto de areia espalhada pelo chão da casa, quando ele foi repartido com quem amo à beira mar... Gosto de vestígios, de molduras sem poses, de chocolates na mesinha de cabeceira, de papéis com a palavra amo-te... Gosto mesmo é das imperfeições da vida, porque só assim é que se ama... O amar não tem poses, nem lugares... Ama-se e ponto e ainda bem que sempre amei pessoas com defeitos.
(Amar tem destas coisas) Carlos Filipe Santos

--( roubado a Paula Maldonado , FB , 10jan16)--

David Bowie [1947-2016]

Há três dias comovi-me ao ouvir, no Spotify, o novo disco de David Bowie. Foi um instante muito breve. O disco é magistral e o prazer da música sobrepôs-se, enquanto o ouvia, a quaisquer outras considerações. Mas por um brevíssimo instante senti que o que estava a ouvir não era importante apenas do ponto de vista musical. Estava a testemunhar o vigor criativo de um homem que já mudara a música popular por diversas vezes e que, no dia em que fazia 69 anos, lançava um disco em ...que, uma vez mais, não se repetia. Bowie ouviu uns músicos de jazz num pequeno clube nova-iorquino e alguns dias depois convidou-os a trabalharem com ele. Em suma, em vez de olhar para trás, olhava em frente, arriscava, recomeçava o caminho, como Sisífo. Comoveu-me brevissimamente essa lição de que é necessário a cada momento reinventar o modo como se empurra a pedra, montanha acima. Sabemos agora: ele tinha um cancro em estado terminal e estava a fazer o que deve ser feito quando se está vivo. Sem complacências. Agora compreendemos tragicamente melhor os versos da canção Lazarus: Look up here, I'm in Heaven, / I've got scars that can't be seen.


(Carlos Vaz Marques,11jan16,FB)




Sigo Bowie desde que me conheço com um misto de admiração e respeito que se tem por alguém, de facto, excepcional.
Diferente em tudo, que fazia, um inventor, sereno camaleão. De muitas coisas geniais, a quem ler, procurem o solo dele no concerto de NY após os atentados de 11 Set 2001.
Arrepiante!



(Mário Borges Coelho,11jan16,FB)

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

«Perseguir Simone no país do António »

Excertos da crónica de Alberto Gonçalves , publicada na Sábado de Janeiro 05, 2016


«Se alguém pode lutar contra a sida e descobrir uma cura, sou eu." A frase é do actor americano Charlie Sheen...»
...
«...Depois disto, não surpreenderia ninguém ver a macaca do Tarzan avançar novidades acerca da conjectura de Hadwiger...»
...
...«Sucede que, por um lado, a "publicidade enganosa" é quase um pleonasmo...
...alguém sinceramente acha que o perfume X transforma a esposa na Charlize Theron...»
...
«Desde logo, enveredar pelo abolicionismo das intrujices implicaria não nos limitarmos a maçar a intérprete da Desfolhada e a empresa que lhe paga. O que fazer com as multidões de videntes, cartomantes, tarólogos e prestidigitadores cujas recomendações sobre emprego, amor e saúde (sim, saúde) animam as manhãs televisivas e as esperanças suburbanas?»
...
«E que destino dar às ervanárias e respectivas infusões milagrosas? E com que cara se admitem devaneios em redor da homeopatia e das mezinhas "chinesas", que o Bloco de Esquerda ambiciona consagrar? A propósito, permitir a existência do BE, do PCP e do socialismo em geral não é legitimar o abuso da crendice alheia? Prometer felicidade e espalhar miséria não configura no mínimo um crime de burla, para cúmulo repetido durante décadas? »
...
«Se me perguntam, respondo que "sim". E justamente porque nem todos concordam, a resposta às proibições é "não". »
...
«Mas há lugares sinistros, quiçá do tamanho de um país, onde os trapaceiros mandam.»
...

domingo, 10 de janeiro de 2016

da pessoa humana...

«Confio na frontalidade tanto quanto desconfio de estar bem com deus e o diabo. Quem não sabe aprende, é questão de tempo, já isso de estar bem com deus e o diabo, como diria algum popular, vai muito da pessoa humana.»

( Excerto de artigo de Alexandra Lucas Coelho , publicado no Público de 10.01.2016 -  "Declaração de voto & inimputáveis" )

Símbolo de Vénus (Na Biologia, o sexo feminino)





É uma representação simbólica de um espelho na mão da deusa Vénus ou um símbolo abstracto para esta deusa: um círculo com uma pequena cruz equilateral em baixo. O símbolo de Vénus também representa a feminidade e na antiga alquimia representava o Cobre. Os alquimistas compunham o símbolo com um círculo (que representa o espírito) acima de uma cruz equilateral (que representa a matéria).

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vé·nus 
(latim Venus-erismitónimo [deusa grega da Beleza e do Amor])

substantivo masculino
1. Segundo planeta do sistema solarcuja órbita se situa entre Mercúrio e a Terra. [É o astro mais brilhante do céu depois do Sol e da Luavisível quer ao amanhecer quer ao anoitecer.] (Com inicial maiúscula). = ESTRELA DA MANHÃESTRELA DA TARDE
substantivo feminino
2. Mulher de grande beleza.
3. Representação artística da deusa Vénus.
4. [Zoologia Género de moluscos lamelibrânquios.
5. [Antigo]   [Química O mesmo que cobre.


"vénus", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/v%C3%A9nus [consultado em 10-01-2016].

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