sexta-feira, 10 de novembro de 2017

praticamente morto ou como um morto-vivo , vou passando os dias . Com dificuldade acrescida à medida que o tempo passa , ora sentado em frente ao portátil , ora dormitando no sofá em frente de uma televisão cada vez menos atraente , vendo o tempo escorrer na ampulheta , com cada vez menos força e vontade . Enfrento os dias , sempre iguais , sem graça , sem sorrisos , sem palavras felizes. Falhei esta experiência única que é a vida

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Seriam umas dez da noite quando o som da campainha ressoou por toda a sala e chegou ao recanto onde se encontrava semi adormecido sentado em frente ao televisor moribundo , a que pouco ou nenhuma atenção prestava. Levantou-se , admirado por tão tardio toque e dirigiu-se lentamente até à porta de entrada

terça-feira, 31 de outubro de 2017

Um frio gélido atravessa-me o corpo atingindo a alma . Não há vozes em redor , nem fogueiras , nem luz. Só o silêncio ! O silêncio que inunda o coração , o silêncio que abafa e leva com ele a esperança . O dia já se fez noite mas nem uma estrela escuto neste lugar onde me encontro. Não sei se amanhã estarei vivo mas se estiver espero ver-te à janela

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

silêncio. a tela em branco. a cabeça oca , o coração vazio , branco como a tela e mais silêncio , ausência(s) . 
Nada apetece , a morte em vida ,o desencanto ,
dor na alma , na carne , na mente e só ausências , vazio , silêncio


domingo, 15 de outubro de 2017

Três da manhã e um calor anormal. Acendo um cigarro , meio a dormir meio acordado , e pego no tablet como antes se pegava num missal. Começo a rezar. Já tão pouco me lembro o que li e vi. Lá fora agita-se um vento anunciador mas nada acontece. Apago a luz e tento dormir de novo. 
Passo , suave, a minha mão pelo teu ventre despido
o teu rosto ilumina-se com um sorriso terno


sábado, 14 de outubro de 2017

Só quero saber de ti ,
a tua ausência dilacera-me a vontade
os teus lábios extasiam-me os sentidos

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Onze da manhã . Mais um dia sem chuva . O lugar , como de costume , está calmo e nada de particularmente emocionante se passa. Aliás , para lá da vida de todos os dias das gentes que por aqui vivem , que não é coisa pouca , nada de especial acontece. À noite , o silêncio é quase sepulcral e só o recurso à imaginação nos ajuda a passar as horas vazias de sons. Ao contrário do que se possa pensar , não é mau de todo. Claro que preferia que estivesses aqui mesmo que não trocássemos qualquer palavra. Olhar para ti , seria suficiente. Na tua ausência , é à imaginação que recorro.

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Uma indisposição abala o meu pequeno mundo de nadas ,
vazios , silêncios , ausências.
É a tua ausência que me afecta .
De que cor é o amor ?!... A que cheira o amor ?!...
A vida é assim. Tem dias em que não faz qualquer sentido. Nem a Catalunha, o PSD ou mesmo o José Sócrates me entusiasmam. Só a vitória de Portugal contra a Suiça , no último jogo de apuramento para o Mundial de Futebol,Rússia,2018,me alegrou um pouco , logo a mim , que normalmente não ligo nenhuma ao futebol.

A doença da minha mãe obriga-me a pensar na vida . Como disse , sem trabalho e com um pequeno rendimento anual , vislumbro com pessimismo o futuro. Cheguei a esta situação porque não venci a pusilanimidade com que vim ao mundo ou a ela me deixei vergar ao longo dos anos . Vivi durante muito tempo afectado por depressões e falta de auto-estima , consequência , porventura , de uma predisposição natural , a que se somou a circunstância de ter crescido em ambiente de algum desequilíbrio emocional provocado , em grande medida , pelo meu pai , ele próprio, também desequilibrado .

Sempre receei o futuro e ei-lo aqui , a bater-me à porta : não vem com cara de muitos amigos nem com muito bons modos. Não tenho outro remédio senão deixá-lo entrar e alojá-lo o melhor que puder.
Passo por dias sombrios , que tinha antecipado , mas vividos são outra coisa . Sem trabalho , com um baixo rendimento anual , preocupo - me com o futuro. Há alturas em que realidade esbarra contra nós de uma forma tão brutal e ruidosa que ,  se a situação por si só já não é boa , fica ainda pior , uma vez que nos tira esperança e discernimento.

Deixar tudo para amanhã , dá nisto.

domingo, 8 de outubro de 2017

Ficou ali quieto por instantes , sem saber para onde ir , até que , inexplicavelmente ,  as lágrimas começaram a cair , frias , pelo até então seco rosto.
Falavam - lhe em Deus e na redenção pela Fé mas sentia-se tão destroçado e descrente que não conseguia entender nada. Afinal , pensou depois , é que a possível verdade era a de que a sua arrogância é que o fazia estar assim. A arrogância de julgar estar certo !
Não é fácil reconhecer que nos enganámos quase todo o tempo. Que a nossa visão da vida e o nosso raciocínio sobre os outros foi , durante imenso tempo , um tremendo erro .

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Morte

A primeira vez que a Morte me mordeu o coração e me arrancou um pedaço , foi em setembro de 1985 , quando o meu Pai morreu. Depois , em fevereiro de 1990 , de forma súbita e sacana , fui de novo amputado , quando o meu Irmão Miguel parou definitivamente de respirar, inanimado para sempre. Se ainda não me tinha refeito do desaparecimento do meu pai , este segundo golpe , desferido à má-fila , marcou profundamente a minha vida , alterando-a para sempre.
Quando percebeu quem caminhava do outro lado , atravessou a rua , aproximou-se e , disfarçando o embaraço que sempre lhe causava a mãe , curvou-se primeiro em direcção à criança a seu lado , cumprimentando - a com um beijo na face e um afago nos cabelos lisos.  Só depois teve coragem para enfrentar o rosto luminoso da mulher que em segredo amava , tendo conseguido mesmo reunir forças para articular , com algum sentido , umas palavras de circunstância . O sol começava a pôr-se e no seu trajecto em direcção ao mar , ia enchendo o céu de um quente laranja avermelhado a que não se podia ficar indiferente. Mais ninguém , àquela hora , passava na rua.Só ao longe , no outro extremo , se  viu a mulher a estender a roupa , nos seus gestos lentos , como sempre  fazia . Inês começou a ficar inquieta quando o silêncio se interpôs entre os dois adultos ali a seu lado e ia puxando pelo braço da mãe.
- Vamos - disse - o André está à nossa espera.
- Até logo - balbuciou António evitando um constrangimento maior que com toda a certeza se imporia se ali ficasse mais tempo . Alice olhou-o com a serenidade que lhe era comum e deixou-se levar pela filha sem dizer qualquer palavra.Esboçou um sorriso quando olhou para trás e mais nada. O alaranjado do céu , cada vez mais intenso , atingiu - o no coração.

domingo, 1 de outubro de 2017

Ficar apaixonado é cair numa armadilha ! Uma armadilha que os sentidos ou o coração , nos preparam e para a qual , nós , ansiosos por dar um sentido à vida , nos deixamos ir satisfeitos e inebriados , mesmo sabendo dos perigos que , com grande probabilidade , iremos ter pela frente. Mas quem é que consegue viver sem o apelo da paixão? Quem não gosta ou gostou de estar apaixonado?! Como se consegue viver sem amor?!...

Abençoadas foram as vezes em que na minha vida me senti apaixonado. Não sei ao certo quantas foram mas foram de certeza menos das que poderiam ter sido. Não me arrependo de nenhuma delas , repetiria cada uma , se possível fosse. Guardo o lado bom mas não esqueço o lado menos bom . Guardo a leveza e a beleza. O sorriso idiota pela manhã , a boa disposição durante o dia , o sorriso sem sentido pela tardinha.

sábado, 30 de setembro de 2017

A ausência da tua presença deixa-me vazio e sem chão
Chegado de novo à casa do silêncio,  só a memória ténue do teu rosto me faz acreditar no dia de amanhã.

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Paulo

Sem palavras. Apenas o silêncio , ensurdecedor e frio , e a tristeza funda de quem nada tem senão saudade . uma enorme nostalgia do tempo ido , da infância menina , do ar limpo do campo e dos sorrisos inocentes.
As lágrimas estão retidas dentro do coração

quarta-feira, 19 de julho de 2017

Não sou ariano,peço sempre licença e nunca arrombei portas. O resto sim

'Sou ariano. E o ariano não pede licença. Entra, arromba a porta. Nunca tive medo de me mostrar. Você pode ficar escondido em casa, protegido pelas paredes. Mas você está vivo, e essa vida é para se mostrar. Este é o meu espectáculo. Só quem se mostra se encontra. Por mais que se perca no caminho.' Agenor de Miranda Araújo Neto.

domingo, 7 de maio de 2017

quinta-feira, 4 de maio de 2017

Deixei de pensar obsessivamente no futuro.
Não significa ter deixado de me preocupar com o tempo que virá . Deixei foi de estar subjugado à ideia , ainda por cima vaga , que fazia do futuro e me mantinha refém.

(O futuro faz-se agora, saberão , com certeza.)


domingo, 19 de fevereiro de 2017

Apesar de ter tido uma infância sem falhas materiais de qualquer espécie , fui , tanto quanto hoje me recordo , uma criança melancólica e desajustada da realidade circundante de então. A melancolia foi porventura uma questão congénita , que nasceu comigo mas que se acentuou com o ambiente familiar (influencia que esteve fora de qualquer tipo de controlo da minha parte , pelo menos nos primeiros anos de vida). O desajustamento que me lembro de ter sentido assim que tomei consciência de mim mesmo devia-se , em grande parte , à insatisfação que eu tinha comigo próprio , devido ao enorme sentimento de desamor e solidão sentidos e carregados para todo o lado .Isso me levava a ser bastante egoísta e pouco ou nada empático com os outros. Não era assim por maldade ! Era assim  por não saber ser de outra maneira ; era assim por auto defesa não controlada e , porque nunca ninguém reparou nessa disfunção e  no enorme desconforto que me causava , assim fui seguindo da infância até à vida adulta.

Vendo o festival da canção e a tentativa da rtp de o revitalizar colando , quer na forma quer no discurso , o actual figurino aquele de outro tempo , remetendo a todo o instante , para esse longínquo lugar da memória , não escapo à nostalgia desses outros tempos mas sei que não voltam mais

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Gostaria que as palavras saíssem de mim como a chuva cai do céu
num inverno molhado

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Atiro um bom dia um tanto forçado e com pouca vontade. Do outro lado respondem - me mas confesso que nem reparei no tom. Uma pequena conversa sobre as baixas temperaturas do dia e a seguir peço dois maços de cigarros. Entretanto as outras duas mulheres já conversavam sobre outra coisa qualquer e despedi-me com um vago até logo.
O frio , durante o curto trajecto de ida e vinda , soube - me  bem. Lembrei-me dos tempos em que era preciso despejar água quente sobre o pára brisas para se poder arrancar com o carro. Já há alguns invernos que por aqui não se sentiam temperaturas tão baixas. Não há é chuva , este ano! Seguramente que não chove a sério há mais de dois meses ,o que ė bem estranho.No inverno tem que haver chuva.

domingo, 22 de janeiro de 2017


Corremos o risco de nos enganarmo - nos ou de fazer juízos incompletos sobre o que acontece à nossa volta , quando , sobre os acontecimentos , reagimos precipitadamente.

Isto é válido em muitas circunstâncias da nossa vida mas escrevo - o agora a propósito de um meu anterior postal sobre o discurso da tomada de posse de Trump onde disse o que sentia assim que acabou a emissão televisiva da cerimónia .

Agora , passadas que são mais de 24 horas sobre o evento , acrescento o seguinte:

- O actual presidente dos USA é uma figura estranha . Dono de uma "fácies" crispada e de um cabelo singular. Quando discursa , tem o pouco agradável hábito de levantar o dedo em riste . Não é empático. É  antipático . Estas características pessoais fazem toda a diferença. ( não é o que se diz , é a forma como se diz ) . Cada ser humano tem , no seu corpo , uma escultura por ele não esculpida , é verdade, mas pode-se sempre melhorar o gesto .

- Trump não é eloquente como Obama o foi . É verdade ! Obama , homem de maior cultura , fez discursos elegantes e arrebatadores enquanto os de T. são bastante mais básicos.

- Alegadamente T. teve atitudes pouco abonatórias com algumas mulheres e é conhecido um video onde sobre elas disse coisas bem pouco dignas . Isso não agrada , não me agrada e pairará sobre ele, como nuvem negra , durante todo o tempo.

- Sobre o seu passado como homem de negócios há enormes questões .Quer no que aos impostos diz respeito , quer quanto à forma como , alegadamente , tratava os seus colaboradores. Devem ser poucos os milionários e multi milionários que tenham um passado "limpo".

- Há ainda todas as dúvidas acerca da intervenção dos russos nas eleições e sobre o papel  desempenhado por  T. nessa putativa conspiração. Sobre isso sei o que é publicado .

Ou seja , tenho , portanto , sobre o novo POTUS , muitas das questões e dúvidas que boa parte do "mainstream" opinativo sobre ele tem. No entanto , não me junto é ao coro daqueles que o querem fazer o pior presidente dos Estados Unidos da América ou mesmo o mais horrendo e perigoso homem ao cimo da terra , logo no próprio dia da investidura.

sábado, 21 de janeiro de 2017

São cinco e pouco desta tarde fria de Janeiro e só a música de Stephen Warbeck ("Proof","Shakespeare in love", ... ) me aquece o coração. Os cigarros também , claro ; além do coração aquecem igualmente os pulmões.

Não tenho andado muito feliz nestes últimos tempos e a música é um bom refúgio para os desencontrados do amor e para os desesperançados no futuro , como eu me sinto agora.

Não chega totalmente a preencher o vazio que a não fortuna cava dentro de nós mas é um paliativo tão maravilhoso que quase nos faz esquecer a verdadeira causa de toda a nossa dor e desespero.

Gostaria de não perder nunca o sentido de humor mas o que verifico é que à medida que o tempo passa tenho menos vontade de rir de mim próprio.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

No mundo , cada país tenta safar-se o melhor que puder . Um pouco à semelhança de cada ser humano. Não devemos espezinhar os outros , devemos ser solidários , respeitar a liberdade e tudo isso mas cada um tem que fazer o seu caminho.

Hoje tomou posse , como o 45º presidente dos USA , Donald J. Trump.

Vi , pela CNN , a tomada de posse - The Inauguration Day - (sem os comentários idiotas dos especialistas da treta , que por cá proliferam ) , e senti-me um pouco americano . Certamente não me aconteceu só a mim. Muitas outras pessoas por esse mundo fora devem ter sentido o mesmo. É inevitável ! Os «gringos» compõem uma grande nação , gostemos ou não gostemos

Para além de outros dignitários , pelo menos seis representantes de outros tantos credos religiosos , estiveram presentes na cerimónia e fizeram ouvir as suas palavras . Achei curioso ! Não será por falta de mensagens para o Além ou do Além , que esta Administração falhará.

Saliento duas frases do discurso de Trump  : "the time for empty talk is over . Is time for action" - contra os governantes que prometem , prometem mas nada fazem e "you'll be never ignore again" - referindo-se aos cidadãos mais desfavorecidos . Sem serem frases da mais fina retórica política , pareceram-me bastante razoáveis. E houve outras , igualmente sensatas .

Diga-se que nunca tinha ouvido , integralmente , um discurso de Trump ou de um outro qualquer presidente americano. Nunca calhou! Já ouvi excertos de muitos mas , na íntegra , nunca tinha ouvido nenhum. Este , que ouvi há pouco , e que , com toda a certeza , será rotulado de populista e proteccionista  , entre outras coisas , não me assustou , não me espantou , não me desagradou.Se eu fosse americano era muito provável que o tivesse aplaudido .

Foi um discurso mais virado para dentro , para os americanos , do que para o exterior . E é isso que faz sentido ! Afinal o homem foi eleito presidente dos EUA e não presidente do mundo .
No entanto houve ainda lugar para palavras para todos os outros países. Nomeadamente quando se referiu ao estado islâmico e afirmou que o combaterá sem tréguas , até que desapareça do planeta. Isso seguramente significará  mais guerra e , com toda a certeza , aumentará o perigo de mais terrorismo , mas o que fazer quando se quer acabar com fanatismos loucos ?!  Este será sempre o preço a pagar por uma eventual maior segurança no mundo e não creio que um outro qualquer presidente da América que tivesse sido eleito por estes dias , dissesse coisa diferente.

De resto , e muito resumidamente , anunciou , ou reiterou , o compromisso de uma intransigente defesa dos interesses dos Estados Unidos da América e dos seus cidadãos , principalmente daqueles mais pobres e marginalizados , querendo dar ou proteger - lhes os empregos ( populismo?!...) . Frisou , repetidamente , que os empregos têm que ser dos americanos , qualquer que seja a sua confissão , cor ou género ( proteccionismo?! ... ) . Não obstante as dúvidas que se levantam no que diz respeito ao comércio internacional e ao seu futuro próximo , dado o peso dos EEUU no mundo , as palavras do novo presidente americano voltaram a parecer - me  muito razoáveis e lógicas. Afinal qual o governante que não promete coisa semelhante aos seus eleitores ?!

Dito isto , não sei ! Não sei o que vai ser o futuro nem que América vamos ter e que papel vai doravante desempenhar nesta grande confusão em que nos encontramos. Mas tudo o que foi dito , mesmo o ataque feito às elites de Washington , me pareceu muito , muito razoável. Talvez seja ingénuo e mal informado . Pode também ficar a dever - se ao facto de não ser muito bom a inglês e ter percebido tudo mal. Não sei ! Vamos esperar e ver. Sem dramas nem exacerbadas excitações.

domingo, 8 de janeiro de 2017

Eis a minha posição sobre a morte natural , aquela que só fica a dever - se ao inelutável trabalho operário do tempo:

um abençoado momento festivo com lágrimas

sábado, 7 de janeiro de 2017

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Saí agora mesmo de dentro de mim .
Não sei onde me encontro.
Talvez amanhã
Não chove nem faz frio , apesar de ser Janeiro.
Cigarro atrás de cigarro , vou-me consumindo , em brasa.
Tenho esperança de voltar a sorrir .

Só o silêncio me é companhia.
E as palavras.
Dou por mim , amiúde , a pensar na estranheza do mundo real ( não tenho evidências de mais nenhum outro ) e isso deixa - me profundamente abalado.
Observo a forma como a sociedade humana se foi organizando ao longo dos tempos , o esforço imenso que isso acarretou e acarreta , mas mesmo assim há momentos em que nada parece fazer sentido.


Poucas eram as coisas que hoje verdadeiramente lhe interessavam. Fumar , que mata , era , ao contrário , das poucas coisas que lhe interessavam e lhe davam algum prazer. Ao mesmo tempo tirava-lhe as forças. Um contra-senso , portanto ! Mas de contra-sensos e contradições era a sua vida cheia . pelo que era apenas mais um. Letal , porventura.

No amor , fora um desastre. Uma questão de genética , com toda a certeza. Sem ter escolhido ou desejado , fazia parte daquele grupo de homens que teme o que mais deseja: as mulheres ! Desde muito cedo que assim era. Ainda em criança e sem que para isso consiga encontrar uma razoável explicação , as meninas que o atraíam e fascinavam , causavam - lhe , simultaneamente , um temor de morte. Nunca percebeu a razão de ser para tal atitude. Mas era assim ! Foi assim !  Essa mesma reacção em relação ao sexo oposto , continuou por toda a sua vida. Até hoje !  Na escola primária , no ciclo e liceu , depois na universidade e mais tarde no seu tempo de adulto , nunca fora capaz de se declarar ás meninas e mulheres de quem gostou . Um drama angustiante , quase trágico , com implicações sérias na sua vida. Está solteiro e sente-se só. A solidão, que petrifica a alma e o coração , também lhe rouba a vontade e o desejo. Menos o de fumar. Que mata.

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

A solidão petrifica o pensamento.

A solidão petrifica o pensamento.

O namorado passou-lhe a mão pelo rosto , levemente , e ela desenhou um sorriso de concordância e apreço. Sentaram-se na beira da fonte com a água caindo atrás  , em cascata , alheando-se do mundo que os rodeava . Ela de gelado na mão , ele fumando um cigarro , bem juntos um ao outro, enquanto as pessoas iam e vinham , apressadas umas , em passeio outras , em constante movimento de fim de tarde. Pouco faltaria para o sol de pôr mas a temperatura era de uma amena tarde de fim de Maio , sem vento.

A solidão é fonte de todo o desespero e dor.

Levantaram-se silenciosamente e caminharam durante meia hora pela cidade em ebulição. Lado a lado , foram descobrindo o que não conheciam mas raramente entraram em algum lugar. Pareceu-lhes melhor o exterior ameno que o interior fosse do que fosse.
O sol , entretanto , adormeceu. O manto escuro da noite viera retirar a luz natural às coisas que só se enxergavam graças à iluminação artificial vinda dos candeeiros públicos , dos néones dos estabelecimentos comerciais e dos imensos faróis das viaturas que se cruzavam nas ruas. Á distância , não se conseguiam distinguir as cores que vestiam as pessoas . Tudo era mais ou menos preto e indistinto.
Eram horas de jantar. Depois de algumas indecisões , optaram por um pequeno restaurante que lhes pareceu confortável e acolhedor , ali mesmo , bem no coração da baixa da cidade onde se encontravam.
Os olhares trocaram-se em silêncio durante alguns minutos até ao momento em que o empregado de mesa lhes trouxe o menu acompanhado de um boa-noite , façam o favor de escolher , que delicadamente entregou a cada um , retirando-se de seguida. A sala pequena , de tonalidades suaves de madeira , em castanhos e bege claro , era discreta e acolhedora e não estava cheia.
Dois casais de aparência estrangeira trocavam animada conversa duas mesas a seguir à deles , gesticulando e rindo , mas não conseguiram perceber em que língua o faziam. Podia ser polaco , sérvio , checo ou uma outra qualquer outra língua desse leste europeu. Logo ao lado , um jovem casal espanhol com duas crianças , rapaz e rapariga,  de uns sete e cinco anos , sorriu-lhes afavelmente ao mesmo tempo que ajudavam os rebentos no correcto manuseamento dos talheres.


segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Indecisões

Ainda há pouco era manhã e agora já se aproximam as cinco da tarde. O tempo passa , às vezes feliz outras não. Acendi a salamandra para aquecer a alma e a sala e é quase só o barulho da lenha a desfazer-se pelo fogo que ouço ao meu redor.Uma espécie de sopro lento e contínuo chega-me do local onde a lenha arde , compondo uma melodia embaladora. Lá fora , entretanto , a chuva hesita em cair. Já hoje saí à rua. Parece estar tudo indeciso entre a tristeza e a alegria. Talvez seja sempre assim nos começos. Não sabemos bem no que tudo vai dar e então acautelamo-nos , não vá o diabo tecê-las.

Um caminho pela frente

Dormi bastante. Mais que as oito horas que normalmente durmo. Acordei vazio , sem passado nem futuro . Por certo , tudo o me compunha , ficou dentro da noite ou se espalhou pelos sonhos que a esta hora partiram para o seu repouso em parte incerta.

Neste segundo dia do ano novo , está uma manhã cinzenta , ameaçando chuva . Poucos sons se ouvem. De vez em quando o vento dá uma varredela e depois tudo volta a ficar em silêncio. Deixei entrar e permanecer dentro de casa as duas gatas que às vezes tomam o pequeno-almoço comigo mas que logo depois retornam ao jardim , o seu lar habitual. Estão meias perdidas sem entender muito bem a razão de estarem tanto tempo no interior da casa mas devagar , timidamente , lá vão conhecendo novas divisões , explorando tudo o que delas faz parte:  sofás , cadeiras , prateleiras , etc. De vez em quando miam e movimentam-se por uns instantes um tanto desorientadas mas depois lá encontram um poiso onde se aquietam , que é coisa que os gatos fazem com superior mestria.

Não tenho a mínima ideia do que vou fazer dos dias que tenho pela frente . 

domingo, 1 de janeiro de 2017

Vida

Tela branca,cheia de passado e de memórias. Umas boas , outras más. A vida é mesmo assim . Julgo que pouco se pode fazer para mudar o curso das coisas. Quero dizer , os altos e baixos da vida. É inevitável. Acontece a todos , sem excepção. Somos gente por um acaso inexplicável e sabemos que um dia desapareceremos. Deixaremos de vez este mundo e pouco ou nada restará do que fomos e do que sentimos . Excluem - se os seres geniais que deixaram , deixam e deixarão marca perene. Dos restantes , ninguém saberá e poucos se lembrarão , a não ser os mais próximos , os familiares , que recordarão em silêncio ou , em ocasiões especiais , com comemorações partilhadas.

Irrita-me  , a condição humana. Lixa - me a degenerescência da razão e a debilitação do corpo. Mas nada a fazer. Aguentar , tanto quanto possível , é o que resta. Enfrentar o touro pelos cornos , dominando o medo . Pelo meio , momentos de alegria , amor , rebeldia , amizade , choro , dor , comoção e partilha. Respirar fundo e avançar. Porventura , cair . Voltar a erguer e voltar a cair. Erguer de novo. Continuadamente , até que as forças nos deixem de vez